domingo, 27 de dezembro de 2009

A propósito do medo.





O medo é cobarde. Chega quando todos saem, aninha-se no peito e bebe-nos o sangue qual sanguessuga.



O medo tem medo das gentes. E, por isso, espera horas tardias de solidão para nos entrar pelas janelas abertas da alma. O medo tem medo do medo. E foge, o cobarde, quando outros chegam.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O tempo não tem tempo.




A palavra tempo sempre despertou em mim sentimentos contraditórios. Nunca o entendi muito bem: afinal quanto tempo tem o tempo, quanto tempo nos dá o tempo?


Recomecei a usar relógio de pulso apenas de há uns anos para cá... Tudo porque, de cada vez que o usava, sentia que ele teimava em apressar-me para algo que não queria que chegasse, evaporava minutos que queria viver para sempre ou, simplesmente, não avançava para algum momento que ansiava que acontecesse. Daí até se tornar um vício olhar para os três ponteiros no mostrador, foi um passo. Passava a vida, suspensa na ansiedade, de olhos postos no pulso, observando cada deslizar cadenciado até que, a muito custo, consegui manter com aquele engano engenhoso uma relação mais saudável.

Nas minhas certas incertezas sei, agora, que o tempo é eterno e se move em círculos. Traz, leva e, muitas vezes, devolve aquilo que arranca de nós à socapa, qual caçador furtivo à espera da melhor oportunidade para apanhar a presa desprevenida.

Aprendi a apreciar os instantes que antecedem algo que eu quero muito que chegue... o batimento cardíaco acelerado, a garganta seca e a cabeça produzindo mil imagens que de tão desejadas se tornam reais. Consigo, agora, aproveitar a brevidade de momentos em que um olhar indiscreto e inquieto diz tudo, sem angustiar-me com o inevitável fim. O olhar, esse, guardo-o na escassa eternidade de que me faço e, por isso, sobrevive ao avançar galopante do tempo. Diz-se do momento ser o mais breve período em que o tempo pode dividir-se. Eu digo, esse momento poderá ser o mais duradouro de todos, dentro da sua curta duração. Já não penso nas noites que comem os dias impiedosamente, porque os risos e sorrisos, os olhares cúmplices sobrepõem-se à triste ideia de finito. E isso chega para que tudo se sustenha. Embrulho cada pedacinho de cada momento em papel colorido, porque um dia estaremos demasiado velhos para dizer piadas sem sentido e viveremos de memórias. Redescobriremos, então, cada um deles no pó de tempos passados, mas que permanecem tão presentes agora como naquele lapso de tempo. Neste tempo não há tempo. Neste tempo, ausente de si mesmo, deixo apenas que os meus sentidos naufraguem em instantes que carregarei comigo, eternamente.



Acho que voltarei a esquecer-me de usar relógio...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eis que volto ao silêncio. Recorrente. (Des)Conforto...




Nada te direi, pois então. Que as palavras estão gastas e pouco sentido fazem. Nada direi. Deixarei que cada palavra morra em mim e se transforme em ar comprimido de encontro ao peito. Nada direi e com isto digo tudo.


Mas sinto...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quando tudo está além das palavras.




 Sinto permanentemente essa necessidade. Mas talvez seja impossível encontrar outras formas de o fazer. Queria escrever. Queria deixar escorrer pelos dedos palavras que traduzissem este muito, este tanto. Depois apercebebo-me qua as palavras são pouco perante o que me trepa no peito e se aloja algures entre o coração e a alma. Essas palavras não são nada. Estão gastas, amarelecidas pelo tanto que as repito. As palavras são as mesmas. E eu nasço outra sempre que o que sinto me sufoca os sentidos. Nasço em mim como cada onda que se insurge do âmago do oceano.



Saber que te tenho é sentir que regresso a casa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Eu.


Eu tinha tudo.


Eu tinha os meus livros.

Eu tinha as minhas canetas de todas as cores.

Eu tinha os vestidos mais bonitos.

Eu tinha os meus brinquedos. Muitos. Imensos. Demasiados.

Eu tinha sempre um sorriso alegre e despreocupado.

Eu tinha tudo.

Eu era infeliz.

 
 
 
 
 
E cada sorriso meu era um grito.

domingo, 29 de novembro de 2009

Os ciúmes das letras.


Li cada linha que escreveste. Li o que ficou por escrever, perdido nas entrelinhas. Li.





E doeu.

Cada palavra que escreveste e que não era para mim.



Vou deixar o passado no sítio a que ele pertence.
No passado.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Coisas mais ou menos assim.



É naquele espaço de tempo em que as ruas se calam e o silêncio me grita no peito que eu mais sinto a tua ausência. É naquele espaço de tempo em que a noite me chicoteia a alma e as poucas luzes espalhadas lá fora se acendem...








...que a tua ausência me deixa um sabor amargo na carne.

...que a tua ausência me confunde e

desordena os sentidos.




A tua ausência não é apenas a tua ausência. É a minha ausência de mim, também. 


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

E, naquele preciso instante, senti o peso do mundo inteiro em cima dos ombros.


Tinha adormecido no intervalo de um filme qualquer que estava a dar na televisão. O toque do telemóvel acordou-me. Eras tu. Estavas algo triste, insatisfeito com algumas coisas que se têm passado na tua vida. Ouvi-te com atenção, como sempre. Queria dizer palavras para te confortar, mas tinha-as perdidas algures em mim e não as encontrei. Quando procuramos conforto junto de alguém, isso não quer dizer que esperamos que essa pessoa nos solucione os problemas. E a única forma que eu tinha de te confortar naquele momento era abraçando-te. Senti-me revoltada com esta distância física. Senti-me triste. Senti-me pequenina e impotente. Amputada pelos quilómetros que nos separam e nos impedem de estarmos juntos tantas vezes como aquelas que desejamos.










Amo-te para lá de todos os quilómetros.
E espero que o tempo seja bondoso connosco, como só ele sabe ser...

Para que conste e para evitar que te queixes um dia destes...









... eu também amuo e faço beicinho.


Tenho dito.

domingo, 22 de novembro de 2009

Uma "não partida" anunciada.




Estou aqui novamente. Na verdade, nunca cheguei a partir. Quando se anuncia uma partida isso não quer dizer que se tenha real intenção de partir. Anunciei a minha partida? Sim, anunciei. Tinha intenções de partir? Não, não tinha. As partidas nunca são fáceis. As bagagens costumam tornar-se cada vez mais pesadas à medida que se somam partidas e aquilo que se deixa para trás acaba por tornar-se parte da bagagem que levamos connosco. Eu nunca quis partir... mas isso não quer dizer que não o faça um dia destes. Às vezes sinto necessidade de provar a mim mesma que há razões para ficar, permanecer. Preciso de sentir que, se resolvesse partir agora, alguém colocaria a mão no meu ombro e me pediria para ficar, porque valeria a pena. Ninguém o fez. E eu permaneci. Talvez eu faça valer a pena ficar. Talvez não.






Agora vou contar-te algo que nunca contei antes... o meu coração pede-me todos os dias o teu sangue. Premente. Urgente. Teimoso. De uma forma pueril.
 
Como se não fosse possível haver um não.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Post ridículo. Pouco recomendável a pessoas susceptíveis e com tendência a acharem-me louca. Não estou. Sou. Talvez me ausente por uns tempos...









Às vezes não sei quem sou. Reconheço-me em mim. Conheço-me em cada imagem alienada que pinto, desta que também sou eu.




Às vezes dói cada sorriso que se me abre na boca. Sinto que os lábios se rasgam em tristeza contida na alma. Às vezes dói cada olhar fechado, humedecido pela claridade. Às vezes dói o silêncio. Às vezes dói cada palavra que fica por dizer, percorre o meu peito em labaredas e me transforma em cinzas levadas pela água. Às vezes dói cada palavra proferida, cada uma que de mim sai é um alfinete cravado na carne. Dói. É uma dor calada, uma dor que não conto, uma dor que dói e de tanto doer deixa de se sentir. Por momentos ausento-me de mim. Encarcero cada fragilidade minha nas masmorras de um castelo que eu própria ergui.




A minha maior prisão sou eu?

Não adianta perguntar. Já sei a resposta. 


Até breve. Talvez.

domingo, 15 de novembro de 2009

As mulheres e o sexo.

F: Olha, tenho uma pergunta para te fazer...
Eu: Faz...
F: Achas que se uma mulher nunca tiver vontade de fazer sexo com o marido pode correr o risco de ser traída?
Eu: Nunca, nunca?
F: Nunca, nunca...
Eu: Hum... então tenho a certeza que sim, que corre esse risco.
F: Oh... porra. Eu estava a falar de mim, entendes?
Eu: Entendo...
F: E continuas a achar o mesmo?
Eu: Obviamente que sim... Agora faço eu uma pergunta: o teu marido sabe cozinhar?
F: Não... nem uns ovos mexidos sabe fazer...
Eu: Então imagina que passas uma semana sem cozinhar... o que faria ele?
F: Possivelmente ia comer fora...
Eu: Pronto... agora queres que te faça um desenho?
F: Não. Porra, pareces mesmo um gajo a falar...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Se o meu olhar matasse...










... a taxa de mortalidade aumentava.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Do âmago.

O tempo tinha arrancado a inocência pueril de quem nada teme.


A sua chegada encheu-a de certezas e de incertezas carpidas na alma.



Ele prendeu-lhe fios de carinho nos cabelos soltos. Colocou-lhe flores no regaço.



... e a calçada outrora cimentada na carne e no âmago transformou-se em jardins que ele lhe semeara no peito aberto.












Porque todas as palavras soam ridículas,

porque nem sequer sabes que penso em ti enquanto as escrevo,

porque nem sequer me lês em cada entrelinha que me escorre dos dedos enquanto vou soltando frases carentes de significado...


... nem eu me compreendo, nem eu as entendo. Sou outra que não sou. Sou derrotada na minha fortaleza. Fico encarecerada nas masmorroras do meu próprio coração que teima em bater mais forte forte por ti.



Não me conheço. Não mais reconheço em mim aquela que julgava conhecer. Afinal, sou pequena e
 
 
 
 tenho medo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

É preciso ter galo...


Sabem quem é que consegue abrir a porta de um armário enquanto está a falar ao telemóvel... e acertar em cheio na cabeça? Sabem?





Pois... eu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Tu não sabes...







mas quando te conheci, apaixonei-me por ti...




...novamente.

sábado, 31 de outubro de 2009

Coisas de machos.

Estava eu olhando distraidamente (juro!) para um certo menino enquanto este fazia xixi, quando:


Ele(muito ofendido)"- O que foi? Nunca viste um pénis?"


E eu a pensar que os seres com pilinhas entre as pernas só tinham este tipo de problemas quando mijavam ao pé de membros do mesmo sexo...

Nota: O dito menino tem apenas quatro anos... não será precoce colocar uma questão deste género?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Se eu fosse um animal...




14h17m
O telemóvel toca.

S.A.: Então linda, tudo bem?
Eu: Hum... Estou a dormir.
S.A.: Está bem. Liga-me quando acordares...


15h42m
O telemóvel toca novamente.

Eu: Siiim?
F.: Então tu não sabes o que aconteceu?!
Eu: Não... Estou a dormir...
F.: Ah... Depois ligo. Beijos

17h29m
O telemóvel toca uma vez mais.

S.: Querida! Olha, estava a pensar ir ao (...)
Eu: Porra! Mas será que não posso dormir descansada? Falamos depois! Beijinho

Pelo que me disseram, quando o telemóvel toca e eu estou a dormir, torno-me numa pessoa agressiva. Juro que é mentira! Eu nem me lembro de nada... Acho que sofro de amnésia. Ou então é um distúrbio qualquer ainda por identificar...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vida de cão?





Juro que não sei como ela consegue dormir descontraidamente na MINHA cama... enquanto eu estou a pensar que amanhã já não poderei passar o dia quase todo na ronha. Humpf... de volta ao trabalho. Raios! Inveja... muita inveja... ainda dizem que a vida de cão é que é! Eu não me importava nada de ter a vida...da minha gata.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Colisão. Em câmara lenta. Regresso...



Ainda não sei como entraste. Logo eu, que nunca gostei de sentir a casa demasiado cheia. Pessoas, quadros, móveis. Pó. Agradam-me as paredes. Brancas, vermelhas. É como se, na sua imponência, confessassem timidamente coisas passadas. Tudo o que está a mais desvia a atenção daquilo que realmente importa. Também nunca me agradou muito o factor surpresa. As poucas pessoas que recebo em casa são sempre convidadas previamente. Para o caso de não serem... a campainha está ao lado da porta, lá fora, só para o caso de. E tu chegaste sem avisar. Quando me apercebi de ti, estavas cá. Confortavelmente. Surpresa. Olhei para o chão de madeira e não vi malas nem bagagens. Estranhei a familiariedade com que me olhavas, o à vontade com que me descobrias em cada canto meu. Tive medo que me conhecesses, senti-me vacilar dentro de mim, encher-me de incertezas. Tudo mudaria irreversivelmente. Mas aproximaste-te de mim, seguro, e nos teus passos ouvi o respirar das folhas, o vento revolver as entranhas e desalinhar-me o cabelo. Tremi. Quis esconder-me ou fugir, nem sei. Não o fiz. Deixei-me ficar, quieta, com o ritmo do coração descompassado na boca e na cabeça. As pernas trémulas, uma sensação estranha no estômago. Uma mistura de imagens, sons, cheiros invadiu me a alta velocidade. Queria perceber... De alguma forma, descobrir-te a alma em algum lugar. O olhar, atento, tentando desvendar o que se seguiria, ansiando saber que sentimentos carregarias contigo, a que velocidade bateria o coração dentro do peito, que segredos me dirias sem falar. Observei-te silenciosamente, porque qualquer palavra estaria a mais. Apaziguaste-me o coracão e a alma com os olhos e as mãos e, subitamente, notei... Reconheci-te. Sempre te desejara. Sempre tinha esperado a tua chegada, mesmo sem saber quem eras ou como serias. Sempre almejara que acontecesses. E sempre soube que, quando chegasses e apesar de ainda não te conhecer o corpo, me sentiria em casa. Mas até aquilo que desejamos muito pode assustar, ganhar as proporções de um maremoto interior que varre tudo por onde passa, quando nos aparece sem aviso.

Poderei ir embora, se preferires, quando quiseres, dizias tu calmamente. Murro no estômago. Súbita vontade de chorar. A minha pequenez. E se eu quisesse que nunca fosses? Não quero que vás... Com os olhos, pedi para ficares.

A minha maior tristeza sempre fora sentir-me uma pessoa avulso. No entanto, tinha a certeza que existias. Sabia, no fundo, que por mais que tentasse esconder-me ou fugir, não conseguiria. A alma sabe sempre o caminho de casa. Ainda não sei como entraste, não sei. Não interessa. Mas um dia ainda me hás-de dizer porque é que não partiste.


Finalmente chegaste... finalmente...

sábado, 24 de outubro de 2009

Noites assim.


Quando isto acontece gostava de ver uma luz ao fundo do túnel. Uma solução. Sinto o corpo e a mente cansados. Talvez um abraço bastasse. Qualquer coisa que quebrasse a distância. Qualquer coisa que comesse o pó do caminho que nos separa. Qualquer coisa que me deixasse adormecer tranquila. A minha mão na tua. O teu respirar, descansado, em uníssono com o meu. O bater compassado do teu coracão no meu peito.
Quando isto me acontece sinto-me triste. Pouco dona de mim. Derrotada na fortaleza que eu mesma criei e que sempre julguei ser capaz de proteger-me de tudo. Fecho os olhos
...




Eu só quero que estas insónias me deixem...


...porque hoje me sinto infinitamente pequena...
será que podes embalar-me até eu conseguir adormecer
?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Princesa... mas pouco.




Gostava de pedir um desejo... um, apenas.
Será que podes continuar a dizer que sou uma princesa... até eu me cansar de ouvir? Podes?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Post (in)útil...



Meus queridos, hoje partilho convosco algo fora do comum. O meu blogue não prima, particularmente, pela publicação de fotografias ou qualquer coisa que revele o meu quotidiano. Mas hoje... hoje não resisti. Esta "menina" que podem ver pelas fotografias é a minha gata (partilho a minha casa com ela há mais de um ano). Sim, é traquina. Sim, é endiabrada. Sim, adora sofás e cortinados. E, hum... telemóveis. E sim, gosta mais da minha cama do que da cama dela. Mas é uma doçura. Não é?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O princípio de todas as coisas.



Leva o tempo que quiseres...
Conta-me na pele a tua saudade, em sussurros. Não te apresses, toma o tempo que for preciso, que o tempo nem existe. Repete-me a mesma história, a nossa história, e embala-me assim, serena, num conto sem fim.
Abre a portão, sem medo. Prende a tua mão na minha e faz-me acreditar que a nossa história ainda não está escrita em nenhum livro amarelido pelo tempo, que podemos pintar cada folha em branco com as cores que quisermos. Faz-me acreditar que nada será em vão, porque vale sempre a pena desde que acreditemos.
Deixa... não precisaremos de nos esforçar muito. Porque as coisas mais bonitas são obra do acaso e nem precisam de serem trabalhadas. Basta que abras o portão
.

sábado, 10 de outubro de 2009

Eu acredito...

Confio.

domingo, 4 de outubro de 2009


No início, ele era um choro quase mudo , rompendo o silêncio. Como uma bruma anunciando a tempestade. De tão cheia, de tanta necessidade de me libertar, prendendo-me, foi trepando a alma até sair pelos olhos em forma de água salgada. Conheceu o mundo pelas janelas que lhe abri em mim. Estendeu as mãos pequenas na tentativa de o alcançar. A boca ávida. A fome. A sede. Um querer tudo. Urgente. Alimentou-se de mim. Fortaleceu-se.
Cresceu.

Adormeceu-se no meu peito nu e foi-se entranhando na carne. Desfez-se em estilhaços, espalhou-se como pólvora seca soprada pelo vento. Arrebatou a força das ondas e insurgiu-se contra os penhascos que eu sempre erguera em meu redor na tentativa de o afastar.
Ficou.
Alguma vez te contei como comecei a amar-te?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Foda-se!


Ao telefone:


Eu - Foda-se! Aaaai, desculpa...

Ele - Desculpa, porquê?

Eu - Desculpa por ter dito foda-se. Foda-se! Disse outra vez foda-se!

Ele - Não importa... Estou no Porto.


Pois é. Tenho a informar, meus queridos, uma senhora também diz asneiras. Mas só às vezes. E hoje é daqueles dias em que me apetece dizer algumas.

Fico-me pela habitual... foda-se... para a distância.

sábado, 26 de setembro de 2009

Palavras vs Sentimentos

Não sei se será mesmo assim...
Se quando temos muito cá dentro, sai pouco cá para fora. Palavras, portanto.
Talvez quando sentimos demasiado não haja forma de fazermos a sua transposição para algumas (poucas) palavras.
Tenho sentido alguma (muita) dificuldade em escrever. As palavras morrem-me no coração, ficam aprisionadas na garganta, fogem-me entre os dedos e o aglomerado de letras que se forma é algo diminuto.
Hoje, faço das palavras dos outros as minhas...



"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violeta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!" Florbela Espanca

Uma quase-certeza... talvez encontre as minhas palavras nas dos outros... as que não consigo dizer ou escrever.

Uma certeza absoluta... já sentia saudades tuas antes de conhecer-te.



quinta-feira, 24 de setembro de 2009

... fizeste-te música em mim...






... e a voz da tua poesia ainda
me lança raios no peito.





quarta-feira, 23 de setembro de 2009

não posso dizer-te o quanto gosto de ti... não posso...







...como saberias viver com tanto?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

E...


...dedilhas canções de embalar nas veias que tenho cravadas na carne,
enquanto me apertas num laço junto ao peito

...nasces-me na pele e floresces-me na boca de cada vez que repito o teu nome

...cantas-me versos de algo nunca antes escrito em cada folha que soltas dos dedos

e vais-te lançando contra mim, como um múrmurio doce de ondas semeadas no oceano

e eu vou me desfazendo das rochas, da areia, até ser (simplesmente)
mar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Clandestinos.



Um (des)encontro eterno e inevitável?
Dança dos dias.
Noites em branco.

Portos vazios. Maré cheia.

Clandestinos.

Trovoada em mim.
Água na boca.

Desejo calado....
que morde e arranha.

Carne ardente.
Rastilho.

Chama que nos incendeia.

Fogo...
em ti ...
em mim.

Choves-me na pele quente.

Tu deixas-me tão...
nua.

Tu fazes-me tão...
tua.

domingo, 20 de setembro de 2009

PORQUÊ?

Porque é que me deixas assim?



...com o coração nas mãos?

sábado, 19 de setembro de 2009

Latejante.

Pensava que me tinhas esquecido. Depois, na quietude dos gritos mudos, ouvi melhor...

o teu coração continua a bater...

aqui.



" Que perfeito coração,
no meu peito bateria;
Meu amor, na tua mão,
nessa mão onde cabia,
perfeito, o meu coração."

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Errante.

Eis que o silêncio surge, uma vez mais, em labaredas...


E eu desfaço-me, novamente, em água.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tua. Princesa.

... e tu chamas-me de princesa e eu acredito que sou. Princesa. E sorrio tanto, tanto, tanto, que o sorriso já não me cabe na boca e sai pelos olhos.



Tocas para mim?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O nosso segredo.



E quando chegas, assim, trespassas a noite com rasgos de luz.
E cada palavra que me pintas na pele é um molho de sorrisos que colhes em cada jardim por onde passas.
E cada abraço em que me envolves é uma canção em que me embalas até adormecermos.
E eu reinvento-me em novas roupagens que me vestem a alma de uma alegria pueril.
E, um no outro, seremos sempre nós. Este é o nosso segredo. Aquele que guardamos, cúmplices, no silêncio de um sorriso que só nós compreendemos. Aquele que arde na boca, corre nas veias, incendeia o peito e consome de desejo. Aquele que nos põe o mundo inteiro na palma das mãos e nos cede um tempo infinito, o tempo que quisermos, porque este tempo é só nosso.



E eu saberei voar, sempre assim, livre, com as asas que um dia me deste.

sábado, 12 de setembro de 2009

Para sempre... talvez.



Nada mudaria. Mas mesmo assim... Deitou a cabeça para trás. Fechou os olhos e deixou-se ir. Nada mudaria...

Pegou vagarosamente na roupa. Vestiu-se e dirigiu-se para a porta em bicos de pés, como se qualquer movimento menos cuidadoso pudesse acordá-lo. Não se despediu. Não deu o último beijo. Não olhou para trás. Fechou a porta de mansinho e, quando a fechou, ecoou-lhe na alma, num lamento ensurdecedor.

Alisava mecanicamente a bainha do vestido enquanto olhava, distraída, através da janela. As luzes confundiam-se com o sol, ainda tímido, e a claridade chicoteava os olhos impiedosamente. As mãos nervosas. Os olhos, perdidos, escondidos pelos óculos escuros mas, mesmo assim, demasiado claros.

Chegou finalmente a casa. So aí soltou um suspiro dorido. Tinha-o feito prisioneiro no peito.

A água caía-lhe, a ferver, no corpo, como se assim pudesse esquecer. Cada gota, uma tentativa falhada de apagar o que acontecera.
Nada mudaria...

Nada mudara. Mas a partir daí tudo seria diferente.

Nesse dia, o sol fugiu. E choveu. Sem parar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Shhhhhh


Nada te direi, pois então. Que as palavras estão gastas e pouco sentido fazem. Nada direi. Deixarei que cada palavra morra em mim e se transforme em ar comprimido de encontro ao peito. Nada direi e com isto digo tudo.
Mas sinto...

domingo, 6 de setembro de 2009

D' outros voos.



Ele voou-lhe nos sonhos, cruzando-os com asas de ternura.
Ela acolheu-o, silenciosa, e no seu céu rasgou-se um sorriso.
Ele aninhou-se no peito e permaneceu. Descansou.
Lamberam feridas, choraram alegrias e tristezas.
Eram livres.

E voaram juntos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Com os dois olhos. Ou só com um!


Pois que hoje aconteceu algo inédito...

Recebi um selo! Ou um prémio, ou qualquer coisa assim...

Mas estou contente! Obrigada, Patrícia! (gosto mais com os dois olhos, mas só com um já não é mau de todo...)
Pelo que me consta tenho que passar o mimo a dez blogues.
A escolha é difícil, mas cá vai:

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

sEm palavras...

Hoje sinto-me assim...


Apenas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coisas da B...

O avô da B. fazia anos. Oitenta.
O avô da B. andou tristonho durante todo esse dia.
A avó da B. organizou um jantar surpresa para o avô da B.
O avô da B. ficou feliz por ver a família reunida.
O avô da B. recebeu algo que queria muito: uma guitarra (confirmei, doze cordinhas, todas lá...).
O avô da B. chorou. De emoção.
A avó da B. também.
À B. também deu vontade de chorar.
E aos restantes.

Post Scriptum:
A B. fez o bolo de aniversário do avô.
A B. bailou de pés descalços, na rua, nessa noite.

E dormiu melhor...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Telefonema...

O telemóvel acabou de tocar. Cinco minutos de conversa. Nem isso. E uma alegria imensa.
Hoje já nem consigo escrever mais. Amanhã. Amanhã...

Mas eu mereço?

Ontem.
Ele:
- És mesmo desajeitada, B.! Já te disse que gosto de ti, mesmo assim?

Do coração. E OUTROS DEMÓNIOS.

Tens que o segurar bem, para não cair. Mas não podes apertá-lo demasiado, para que não o sufoques. Não sei em que momento me esqueci de to dizer. Deveria ter dito? Não o deixaste cair, bem sei. Agarraste-o como quem está a afogar-se se agarra a uma bóia. Agarraste-o como um moribundo agarra a vida num suspiro. Agarraste-o com as duas mãos, sôfrego, como se lhe quisesses beber a vida, em forma de sangue; como se quisesses fazê-lo bater dentro do teu peito. E quanto mais o apertavas contra ti, mais a minha vida se esvaía pelos poros. A minha respiração desacelerou. Senti o corpo entrar em delírio. Mas não me importei. De qualquer das formas, agora também já não quero que mo devolvas. Ele sempre foi como um animal selvagem, correndo em campos de girassóis, chapinhando em ribeiras de água doce, onde os peixes vinham beijar os pés nus. Ele sempre foi livre. Até que se rendeu, cansado, demasiado cansado para bater sozinho. Foi-se aproximando lentamente, ainda assustado. Chegou bem perto de ti. Suficientemente perto para te respirar. Bateu mais fortemente como que a avisar-me que estavas ali. Tentou ganhar asas como um pássaro pronto a voar pela primeira vez. E eu sentia as asas baterem-me no peito, roçarem-me a pele, revolverem-me o cabelo. Era urgente. Ele queria. E eu nada mais podia fazer. Não podia prendê-lo mais. Não lhe conseguia ler os batimentos de tão fortes e descompassados que eram. Ecoavam-me na carne; descobriam-me a pele, debaixo da roupa; atordoavam-me os sentidos. Tinha que deixá-lo partir. Esta já não era a sua casa. Ele queria ser livre noutro peito. Queria bater noutro compasso. E eu não quis deixá-lo ir sozinho ao teu encontro. Ele já conhecia o caminho que o levava a ti. Mas eu quis acompanhá-lo, fazer a última viagem com ele dentro de mim. Ele pegou-me na mão e eu senti-me mais pequena do que nunca. Fechei os olhos e deixei-me ir. Naquele momento era ele o meu dono. O meu mestre. A viagem não foi longa, não foi. Por entre todas as encruzilhadas, ele seguiu sem enganar-se. Parou. Eu abri os olhos. Ceguei. Fechei-os novamente e abri-os lentamente, uma vez mais, como se estivesse a habituar-me ao que via. Ele continuava a bater. Agora, docemente. Tinha chegado ao seu destino. Podia descansar um pouco. Não me despedi. Olhei-o uma última vez e só aí.... peguei cuidadosamente no meu coração e o depositei. Nas tuas mãos.
Afastei-me vagarosamente. A ferida aberta. A dor. Lancinante. Corri, na tentativa vã de lhe fugir. Caí. Os joelhos nus nas pedras do chão. No pó da estrada. E só aí... chorei. Sem soluços. Apenas lágrimas que pisavam as folhas e trepavam pelos ramos que me secaram na alma, apenas lágrimas que me saíam pelos olhos, rebolando cintilantes pelas faces. Quentes. Salgadas. Doridas. Levantei-me a custo, sacudi o vestido. Tentei respirar fundo, mas o ar não me enchia o peito. Cada vez que tentava fazê-lo, era um murro no peito vazio. Olhei para o horizonte. Para onde iria? Estava perdida.... Tinha esquecido o caminho de casa.
 
 

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Bem-hajas...

Não tenho por hábito guardar mesnsagens no telemóvel. Por uma razão que me é especial, guardei e continuarei a guardar uma que me arrancou um sorriso num dos dias mais longos da minha vida. Não irei transcrevê-la na totalidade (por razões óbvias), mas partilho convosco parte da mesma: recebida em 23/08/2009 01:34 "(...) e tens que reagir. Tens mesmo. Por ti. És linda e isso não percas nem vulgarizes ao te transformar como as outras... Não será bom, acredita. Ser especial é lindo. Duro, mas lindo."
Há pessoas assim. Daquele tipo de pessoas que vão entrando de mansinho pela nossa vida e se ancoram no fundo da nossa alma. Chegaste devagarinho. Mas vieste para ficar. Tens sido uma amigo valente, querido P.. Tens sido a única pessoa capaz de fazer com que lamba lágrimas do rosto com um sorriso na boca e nos olhos. Consegues perceber a minha sede insaciável de infinito, que é também a tua.

Bem-hajas.
... por te preocupares comigo;
... por me acompanhares nas noites de insónias;
... por me desejares um bom dia, mesmo quando ainda estou a dormir;
... por me mimares;
... por seres generoso;
... por sentires as tuas dores e também as minhas;
... por me deixares ser um porto de abrigo para as tuas mágoas;
... pelas palavras que escreves; pelas que dizes e pelas que calas mas que eu leio nas entrelinhas;
... por partilhares dores e sorrisos;
... por me arrancares gargalhadas tão sonoras com certas "trapalhadas" que te acontecem (o meu vizinho deve pensar que sou louca por rir sozinha);
... por pores no meu nome algo doce (só tu me tratas assim).

Bem-hajas por existires e fazeres parte da minha vida. É uma honra.

domingo, 23 de agosto de 2009

Deixa-me morrer ou viver. Em ti.

Às vezes penso... és um assassino de amores. És um ladrão de almas. Como se o facto de ficares com o coração dos outros a bater-te nas mãos, suplicando por vida, não te chegasse. Como se a certeza de me saberes eternamente tua, cerzida a ti, não fosse suficiente.
Às vezes penso... mata-me de uma vez, deixa-me morrer em ti, ou então, dá-me vida. Deixa-me viver para sempre no prolongamento da tua eternidade desordenada e ansiosa.
Queima-me a carne a ferro quente, rasga-me a pele e entranha-te. Não fujas. Queima-me. Queima-me...
O cigarro arde-me nos lábios e eu só quero que a tua boca apague o meu mar. Em chamas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Que seria?

As palavras falham-me. Sinto a cabeça a latejar, vazia, ou então, demasiado cheia. Tão cheia que os meus dedos trôpegos não conseguem acompanhar a velocidade dos pensamentos que a percorrem. Nem escrever consigo e deixo-me embalar numa apatia que me faz doer a pele, a carne, os ossos e tudo cá dentro.

O passado fim-de-semana teve acontecimentos únicos de tão fantásticos mas o desfecho do mesmo continua a chicotear-me o corpo. Voltei a ter insónias. As poucas horas que durmo entregam-se a pesadelos que não consigo evitar quando os olhos fecham. Os comprimidos cor-de-rosa permanecem na mesinha de cabeceira.

O cansaço era imenso, é verdade. Era quase dia, tão dia, que a claridade já feria os olhos depois de um dia e uma noite a dançar no meio do pó. A viagem não seria assim tão longa até chegar a casa. Duas horas e meia, três no máximo. Mas os olhos deixaram-se trair pelo sono. Fecharam-se dois segundos. E aquilo que me lembro é do primeiro embate, o arrastar do carro pelo muro, como que em câmara lenta. Não penso em mais nada. Apenas pergunto a mim mesma: se em vez do muro estivesse um precipício; se em vez daquela estrada, o carro seguisse numa auto-estrada a alta velocidade...

QUE SERIA?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ondas de palavras.



Eu sei que cada palavra minha é como uma onda que se forma nas entranhas do mar e se atira contra penhascos imponentes, morrendo-lhe nos braços frios. Mas a morte de cada onda faz nascer outra e mais outra e elas nunca acabam. Nenhuma vive duas vezes da mesma forma. Cada uma se resigna a um fim violento e deixa-se levar de regresso ao local de onde partira, num lamento que é quase um murmúrio. Apenas uma nova onda terá força para tentar o que outras não conseguiram. Até que, também esta, se rende, cansada, conhecendo de antemão o fim anunciado e enevitável. E tudo acalma. Aparentemente.


Calo as palavras. Faço-as apaziguarem-se, espalhadas de forma desordenada pela alma e peço silêncio. Tapo-lhes a boca, mesmo que tentem morder-me a carne e me exijam serem ouvidas. Não é tempo. Não é o momento. Quando, finalmente, as liberto, soltam-se com fúria incontrolável e é aí, só aí, que elas falam de mim, de dentro de mim, sem que possa evitar o que dizem.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Loucuras...

Não costumo ter medo de nada... Na verdade, aquilo de que realmente tenho medo é de mim mesma. Daquilo que não consigo controlar. Ou não quero controlar. Daquilo que não controlo mas que, mesmo assim, me atrai. A sensação de sentir o chão fugir-me debaixo dos pés é angustiante e, ao mesmo tempo, atraente. A vontade de entregar-me a um rodopio estonteante no qual desmaio em mim.. É a certeza absoluta de nada conseguir fazer para contrariar vontades que se escrevem no peito e que vou lendo num silêncio inconsciente. São as cores com que esboço pinturas enquanto sonho de olhos abertos. É a loucura de ser tão lúcida, que chego a ter consciência absoluta da minha loucura. É um querer não querer e, mesmo assim, continuar a querer aquilo que se quer.

É o, tantas vezes, não saber...

que se quer.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O verdadeiro elogio. Ao amor.

Há quem viva como coração perto da boca. Há quem viva com ele na ponta dos dedos. Eu prefiro não ouvir o meu. Ou, pelo menos, fazer de conta que não o ouço ou sinto. Tapo os ouvidos, fecho os olhos e a boca e talvez assim o batimento cardíaco desacelere até tornar-se inaudível, imperceptível. Talvez assim não me dê conta da sua existência. Mas o sacana insiste em pregar-me partidas e, quando menos espero, faz questão de me recordar o sítio onde mora, como se fosse um despertador por vibração. Apertado ou inchado. Não lhe sou indiferente.
Foi o que aconteceu hoje. Ao reler um texto que já conhecia, algo o despertou. E quando me apercebi era tarde demais. O peito já me doía, como se cada batimento descompassado fosse um murro. Como se me custasse respirar e o ar me sufocasse lentamente. Pouco interessa quem o escreveu. Pouco interessa...
Mas quem o fez, fê-lo com uma "banda sonora" única...
"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também"..

domingo, 2 de agosto de 2009

Não sei se vale a pena...

(Mais uma) Fotografia fantástica de Paulo Madeira www.paulomadeira.net www.olhares.com/moss



Não sei se vale a pena. Esta vontade de nada prende os músculos e vai pintando a negro os sonhos. É como se o desalento agarrasse num lápis de carvão e começasse a cobrir com linhas escuras todas as outras cores.
Não sei se vale a pena. Não me apetece. O vizinho dá-me os bons dias a meio de um sorriso e custa-me responder-lhe. Passo ao lado da esplanada de um café e quase sinto inveja. Vários jovens, riem e falam de tudo e de nada de uma forma despreocupada. Semeiam sonhos no fundo de uma garrafa de cerveja. Não me apetece nada... Sigo o caminho de casa sem parar.
Nem sei se tudo isto é real. Perco a conta ao número de cafés, acendo (mais) um cigarro. Sinto-me errante. Deslocada. Da varanda vejo telhados, luzes através das janelas de outras casas. Que estarão a fazer? Será que, tal como eu, têm insónias? A rua está adormecida. A velar-lhe o sono, apenas os candeeiros que se espalham por entre as casas.
Um manto escuro apagou as estrelas e eu só quero (conseguir) adormecer.
Eu sei que vou passar a vida toda à tua espera. Não sei se vale a pena. Eu sei que não virás. Não sei se vale a pena...



Vale a pena?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A imagem... da inocência.

Não tenho por hábito falar de terceiros neste "espaço" . Ou, pelo menos, não costumo identificá-los. Mas desta vez não resisto. Num passeio por blogues alheios encontrei uma fotografia absolutamente fabulosa. Não conheço o fotógrafo pessoalmente, confesso. Não percebo nada de fotografia. Mas fica o meu agradecimento ao José Carlos Marques (o fotógrafo) pela partilha.
A imagem vale apenas por aquilo vale. Vale pelo momento. Vale por não ter sido um momento "criado" propositadamente pelo fotógrafo (pelos vistos nem tempo teve para tirar o flash da mochila), mas por este ter sido rápido o suficiente para não deixar escapar algo tão doce. Estas coisas não se repetem. E acreditem que ao olhar a fotografia se sente o cheiro das pipocas coloridas e pode ver-se a nuvem de algodão de aspecto delicioso que se vai formando, para depois se colar aos dedos e desfazer na boca.
Mais abaixo, sentada no chão, a inocência. Desarmante. Rara. Algo inquietante. A descoberta. Sinto-me novamente uma menina pequena.
Pouco mais haverá a dizer. No fundo, quase receio que qualquer palavra possa estragar o momento.
Basta. É um lugar comum, mas, não raras vezes, uma imagem ainda continua a valer por
mil palavras.
 
 

Fotografia de José Carlos Marques
Página Pessoal: www.josecarlosmarques.com

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um sopro.


A memória que guardamos daqueles que, por livre arbítrio ou infortúnio daquilo a que chamamos destino, se ausentaram de nós nem sempre é nítida. Esbate-se nos compassos do tempo e, aí, deixamos de conseguir recordar com os olhos para passarmos a recordar com o coração. Apertado.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Devia...?

Devias abrandar o ritmo, diz ela com tom preocupado. Pois. Sim, devia, penso eu.
Na verdade, devia muitas coisas. Devia pensar menos. Devia sentir menos ainda. Devia ter um ar mais acessível, de forma a não afastar a maioria das pessoas que se cruzam comigo. Devia confiar menos naquelas a quem permito uma aproximação. Devia estar menos tempo sozinha; a solidão torna-se viciante, corroedora de tempos e sentidos. Devia acabar de ler o livro que permanece ao lado da cama há mais de um mês. Devia mudar os meus cactos para os vasos maiores que comprei há quinze dias. Devia cozinhar mais, mesmo que me custe fazê-lo só para mim. Devia tratar da roupa hoje; o guarda-fatos vai ficando vazio e a roupa amontoa-se no cesto para a roupa suja e no cesto da roupa por engomar...Devia... mas o meu tempo não dá para tanto.
Devia reservar mais tempo para mim. Devia desligar os telemóveis e o despertador.
As horas que o raio do dia tem (mas quem é que se lembrou que o dia só haveria de ter vinte e quatro horas?) são poucas. Os meus amigos reclamam a minha atenção; exigem de forma doce a minha presença em jantares, festas ou numa simples conversa com cheiro a café. Não posso dar-lhes tanto, não consigo. Falho vezes sem conta, adio encontros, digo que talvez para a próxima dê. Quando consigo arranjar um "buraco" vou. Esqueço o cansaço; desmarco planos; calo a cama que me chama lânguidamente, vou mais logo, o descanso pode esperar mais umas horas. Camuflo olheiras, arranjo-me o melhor que consigo, porque continuo a reservar tempo para fazê-lo como se de um ritual se tratasse. Escolho a roupa meticulosamente e nunca dispenso os sapatos de salto agulha mesmo que os pés me implorem algo diferente. E nesse momento esqueço tudo. Visto-me de outra pessoa. Saio de casa e sorrio, porque aquelas horas são minhas e daqueles que tanto negligencio. Falo, escuto, rio, sorrio, choro, danço, bebo martini's. Confundo-me com as luzes e outros corpos anónimos. Sinto o corpo suado, a roupa colada à pele e o cabelo colado às costas. Não importa. Um miúdo mete conversa comigo mas não ouço; manda para o ar um Ai és tão gira, posso conhecer-te; e a partir daí não escuto mais nada. A falta de originalidade deixa-me entediada. Troco olhares com desconhecidos. Não quero ninguém. Já é dia. Vou para casa sozinha, com os olhos a pedirem óculos de sol e sinto-me bem. Lavo a cara, o corpo e a alma e nem me lembro de adormecer. Acordo, longas horas depois, com ressaca. Apesar de tudo, tenho a firme certeza, batendo no peito, de que são estas coisas que me vão dando força para continuar no mesmo ritmo.
Devias abrandar o ritmo. Devias arranjar alguém. Ela tem razão, devia. Talvez, mas não hoje, não amanhã. Talvez no outro dia...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

De sal... ou outra coisa.

Fotografia de Paulo Madeira. Esta e outras (fantásticas) em www.olhares.com/moss ou www.paulomadeira.net

Enrodilhamo-nos.
Eu e tu. Perto.
O grito enfurecido do mar
enrocado
é colhido nas voltas das vagas...lá longe...
Um enredo de cheiros na tua pele e
na minha.
 
Acordo. Abro os olhos.
O tecto.
Branco. Vermelho. Negro.
Silencioso.
Duas lágrimas, roliças. Salgadas. Brandas.
Não eram de tristeza. Mas não sei do que são...
ainda.
 
Um novelo sem ponta solta.
(Des) canso-me de sal.