Tenho que arranjar uma armadura para esta coisa esponjosa a que chamam coração.
É difícil. Magoa, o facto de não podermos fazer planos para hoje. Não nos podermos encontrar daqui a uma hora, por exemplo, no café que fica naquela ruela íngreme perto da minha casa. Não podermos fechar os olhos, todas as noites, no carinho adormecido nas veias. Dói.
Resta-nos muito. Resta-nos tudo. Só não temos o agora, aquele tempo presente em que há margem para surpresas de última hora. Não nos resta a distância. A distância é o que sobra. É o que está a mais. Temos o presente, com hora marcada, e o futuro. Quem sabe, um futuro.
Por enquanto, vou tentando arranjar formas de aniquilar esta pontada que insiste em dilacerar-me o peito. Bem sei, se te falar disto tentarás apaziguar-me docemente, dizendo que é assim que tem que ser. Que o futuro virá. E eu fico pequenina. Sou pequenina. Sou impaciente. A espera sem tempo definido deixa-me perdida. O ar provoca-me remoinhos no peito enquanto não chegas.
Gostava de conseguir mentir-te. Dizer, no meio de um sorriso, "Demora o tempo que for preciso, que eu aguento-me.". O problema é que não consigo...
Não precisavas dizer que voltarás, porque a promessa ficou feita em cada peça de roupa que deixaste, em cada bilhetinho que espalhaste pela casa e só depois descobri.
Apetecia-me atirar-te com toda a eternidade para o colo, ter a certeza que nenhuma história poderá ser tão feliz e especial como a nossa. Não quero que ela seja apenas um parêntesis porque eu não sei não esperar nada. Eu quero tudo. Quero conjugar-nos no futuro.
Bem sei que já falta pouco para chegares mas há minutos que parecem toda uma vida...