sábado, 12 de setembro de 2009

Para sempre... talvez.



Nada mudaria. Mas mesmo assim... Deitou a cabeça para trás. Fechou os olhos e deixou-se ir. Nada mudaria...

Pegou vagarosamente na roupa. Vestiu-se e dirigiu-se para a porta em bicos de pés, como se qualquer movimento menos cuidadoso pudesse acordá-lo. Não se despediu. Não deu o último beijo. Não olhou para trás. Fechou a porta de mansinho e, quando a fechou, ecoou-lhe na alma, num lamento ensurdecedor.

Alisava mecanicamente a bainha do vestido enquanto olhava, distraída, através da janela. As luzes confundiam-se com o sol, ainda tímido, e a claridade chicoteava os olhos impiedosamente. As mãos nervosas. Os olhos, perdidos, escondidos pelos óculos escuros mas, mesmo assim, demasiado claros.

Chegou finalmente a casa. So aí soltou um suspiro dorido. Tinha-o feito prisioneiro no peito.

A água caía-lhe, a ferver, no corpo, como se assim pudesse esquecer. Cada gota, uma tentativa falhada de apagar o que acontecera.
Nada mudaria...

Nada mudara. Mas a partir daí tudo seria diferente.

Nesse dia, o sol fugiu. E choveu. Sem parar.

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