quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pesadelo. Alguém sabe interpretar sonhos?

Tem cuidado com aquilo que desejas. Já tinha ouvido a frase um par de vezes, já a tinha proferido outras tantas. Nos últimos dias, tendo sofrido de insónias desgastantes, muito em parte devido ao calor, aquilo que mais desejava era uma boa noite de sono. A noite passada trouxe uma brisa mais fresca e agradável e senti-me satisfeita. Finalmente teria uma noite de sono tranquilo. Ou, pelo menos, foi o que pensei.
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Tento descobrir a razão de tamanho pesadelo, passei toda a manhã a pensar nisso... Ainda não cheguei a uma conclusão. Talvez alguém perceba de interpretação de sonhos. Eu não.
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Ao que sei, o fogo é o meu elemento, mas na água também me sinto bem. Ninguém diria. Com apenas seis anos vivi a experiência de sentir-me afogar. Apesar de ainda não saber nadar, todas as minhas tardes quentes de Verão eram passadas na água, bem à beirinha. Numa dessas tardes, aquele estúpido imaginou (sim, imaginou, que isto de pensar de forma concreta e objectiva não é para todos) que eu sabia nadar e decidiu atirar o meu corpo franzino para um sítio onde não tocaria com os pés no fundo.
Olhos abertos, medo, luta. O sol reflectido lá em cima, na água. Não sei quanto tempo passou. Bastante. Não demasiado, felizmente. Senti dois braços em volta da cintura. Emergi. Tossi, água e algumas ofensas, mas nada me demovia. O medo não era suficientemente forte e passados poucos minutos continuava a chapinhar na água, à beirinha como sempre, com os lábios roxos e o fato de banho amarelo.
Sei que no Verão seguinte já sabia nadar. Não sei como aprendi. Lembro-me que não admitia que me agarrassem na tentativa de me ensinarem. Não sei como aconteceu, mas que aprendi, aprendi. Adoro água, adoro andar debaixo dela até não aguentar mais suster a respiração. De olhos abertos, sempre.
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As imagens do pesadelo desta noite voltam à minha mente.
Não sei como fui parar ali. Estou em pânico. Não consigo mexer os braços, as pernas não me respondem. A claridade do sol, desmaiada na água, está demasiado longe. No fundo, luzes de uma cidade submersa. A água afoga-me os pulmões em goladas. Tenho que sair daqui. Não consigo respirar, tenho que respirar. Preciso de ar. Preciso de ar... Não pensei mais. Uma doce escuridão começou a embalar-me. Senti-me sonolenta. Queria adormecer...
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Subitamente abro os olhos. Tenho o cabelo molhado, colado às costas. A respiração ofegante. Ardem-me os olhos e o coração, encolhido, bate contra o peito desenfreadamente.
Foi só um pesadelo, foi só um pesadelo.
Levanto-me, ainda fora de mim, vou para a varanda. Acendo vagarosamente um cigarro e respiro fundo. O fumo sai em espirais contra o céu estrelado. Quase me dói sentir o ar encher-me o peito. As luzes da rua velam o sono das casas adormecidas. Estou acordada. Estou viva.
Foi só um pesadelo, foi só um pesadelo...

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