sexta-feira, 5 de junho de 2009

Palavras. As certas?




És um livro ilustrado. Silêncios, palavras e imagens, vou-te sorvendo lentamente. Não quero que findem. Nunca. Não te leio de uma só vez, embora sinta essa vontade muitas vezes. Quero conhecer tudo, mas mantenho a calma. Abro-te e folheio-te. Volto atrás. Começo de novo. Leio as mesmas frases para melhor te entender e depois fecho-te e guardo-te bem junto a mim. Deixo-te escondido do mundo num ninho de algodão, flores, folhas e palavras feitas de ternura e afecto. Quando regresso continuas lá. Em cada linha, a tua voz, o som das palavras que dançam nas folhas e me chegam aos ouvidos como carícias. Em cada imagem encerrada em ti, voltam o teu sorriso e olhos doces de menino pequeno que eu quero, a todo o custo, proteger nem sei de quê. O mundo lá fora é cruel. Não te digo. Vendo-te os olhos com beijos para que não te apercebas, para que te sintas seguro comigo. Não quero voltar a sair daqui. Cada vez que transponho as portas, elas transformam-se em muros altos, cada vez mais altos. A cada regresso, o cansaço aumentou e a vontade de permanecer neste calor acolhedor envolve-me. Devo sair, mas não quero. Não vou. O teu cheiro silencioso, que consigo tocar com os dedos e está impregnado de ti e já em mim, fala mais alto do que qualquer grito ensurdecedor. Chamas-me, mesmo sem te ouvir. Adivinho-te o sabor. Umas vezes doce, outras salgado. Fresco. Quente, a queimar as entranhas. Desenho-te o corpo, branco e mudo, na brevidade de um fechar de olhos e repouso em ti. Sinto o teu respirar em cada poro meu. Leio-te os silêncios ou, então, deixo me ficar contigo nesse silêncio que é nosso, sem pensar em nada. Calados, dizemos muitas coisas. Cada vez que te abro continuas lá, presente. Já te conheço mas, mesmo quando te releio, descubro sempre algo novo nas entrelinhas. E então, surges em mim com força renovada. Deslizas suavemente, tocas-me as mãos e serenas-me os ímpetos. Abro-te e folheio-te uma vez mais. A cada dia, todos os dias. Surge uma folha branca. Confusão. Por instantes, pensei-te perdido. Pego na caneta, feita de arco íris, comeco a escrever cuidadosamente. Afinal, ainda há alguma coisa por escrever. Eu quero escrever-me em ti. Não quero mais nada. Quero-te todo. Fundimo-nos. Pele, carne, cheiro, voz, toque, sabor. Olhos que sentem. Não sei onde começo ou acabo. Talvez não possa isolar-me do mundo inóspito que observo da janela, agarrada a ti. Mas quero-te comigo. Levar-te-ei, verás horrores e coisas belas. Não te largarei da mão, prometo. Iremos, lado a lado. Dois contra o mundo, se preciso for. Não sei se encontraremos uma planície calma, onde a chuva e o sol sopram levemente nas brasas do corpo e da alma. Não sei se acharemos o cume de uma montanha onde as nuvens e as constelações são pêndulos que tocamos com os olhos. Encontraremos um abrigo, onde for. À partida, não há batalhas perdidas.

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