terça-feira, 12 de maio de 2009

Sinto-me...

Não sei que horas serão. Caminho sem pressa, apenas pelo prazer de sentir o movimento do corpo que parece cortar o ar por onde passa. Páro e olho para trás. A aldeia está mais distante, mas continuo no meu caminho, o caminho que vou fazendo à medida que vou andando. Não sei durante quanto mais tempo ando, de um lado e de outro uma paisagem verdejante e, quase escondida pela vegetação, vejo a água que desce pela montanha enquanto se vai estreitando até terminar num fio de água quase imperceptível. Não fosse a fonte de aspecto grosseiro na qual a água cai, pacientemente, a conta gotas, pareceria que nunca ninguém ali havia estado. Uma pequeno rochedo talhado pela natureza impõem-se timidamente ao lado da tosca fonte. Já devem ter passado por ele muitos anos, mais do que aqueles que consigo contar e ele deve ter-se habituado às visitas à fonte, porque ganhou a forma de um assento. Quantos antes de mim terão passado aqui? Quantos terão descansado nesta sombra? Sento-me. Não tenho urgência de chegar a qualquer lado. Inclino-me sobre a fonte e tenho que juntar as mãos em forma de concha para conseguir beber a escassa água fresca que consegui segurar nas mãos. Daqui consigo ver a aldeia ao longe. As casas espalhadas de forma desordenada pela encosta parecem fazer todo o sentido. Não poderiam estar de outra forma. Aqui e ali, saindo de uma ou outra chaminé, vejo o fumo que se vai desfazendo de encontro ao céu. O sol apareceu sem vergonha e o vento quase nem se sente. Até as árvores lhe são indiferentes. Permanecem impávidas perante o seu sopro. Apenas algumas nuvens se arrastam vagarosamente ao sabor desta brisa amena e inebriante.
Gosto desta monotonia... E mesmo que um dia volte a procurar-me nos sítios onde não estou, mesmo que continue a imaginar me de uma forma que não sou, agora estou aqui. Não me sinto errante, não me sinto perdida. Sinto-me.
Sinto invadir-me uma serenidade quente e reconfortante. Sorrio. Finalmente sei. O segredo que julgava estar guardado para lá das portas do universo, inatingível ao entendimento humano, carrego-o comigo. O segredo está em mim. O segredo não está nas minhas escolhas, certas ou erradas, o segredo está no meu livre arbítrio, no poder que tenho de escolher. Agora sinto-me livre, dona de mim, do meu tempo, senhora do meu mundo, agora sou apenas aquela que me penso. Gosto deste silêncio.
E finalmente... o silêncio é apenas silêncio.
12 de Maio de 2009

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